9 de agosto de 2014

[Aos Teus, à Deus]


- Cristo suicidou-se.

Não me contive. Era inevitável o choro. Rebusquei em minhas gavetas, algum sinal de corda. Alguma lâmina sem corte. Alguma arma coberta de fogo e de razão. Quis fugir. Mas lembrei-me que entre perder-se no mundo e perder-se em si mesmo, eu já estava perdido nos dois. Quando me deram a notícia, veio em mente a figura exata do acontecido. Judas entregou cristo (por algumas moedas) para cristo. Entende a imperfeição da perfeição? Pude imaginar, de olhos abertos, um cristo vaidoso, vestido pela desnudez de ser o rei e de não ser nada. Uma corda áspera, forte, apertava seu pescoço. E ele chorava sangue. E ele morria pelas próprias mãos. Pelas próprias chagas. Pelas próprias feridas.
Assim, acontece comigo. E pode estar acontecendo com todos nós. Vivemos aparentemente como cristo feitor de milagres. Mas há, dentro de mim uma alma podre. Em decomposição. Pulmões rasgados. Estômago como ninho de baratas. Coração suicida. 
Não quis ir ao velório. Ele ressurgiu no terceiro dia. Nos sufoca com a tristeza, para provar o seu narcisismo. Eu sou cego. E nunca poderei ver para crer. 
E a você, que se faz de cristo, que reparte o pão e cospe no prato, que cura leprosos com o cataplasma feito por minhas lágrimas, que anda sobre os afogados, a você que anda com putas, com bêbados, com doentes, a você que transforma vômito em vinho para encher-me. Para embriagar-me. De tudo que você me ensinou, há apenas uma coisa que aprendi. Que o deus que você me fez seguir não é amor, é desamor. 



Lucas Veiga

Nenhum comentário:

Postar um comentário